Evocação de vivências análogas às de todos nós

Antesmente eu tentara coisificar as pessoas e humanizar as coisas. Porém humanizar o tempo! Uma parte do tempo? Era dose. Entretanto eu tentei. Pintei sem lápis a Manhã de pernas abertas para o Sol. (...) eu aprendera que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir. Então seria o caso de ouvir a frase pra se enxergar a Manhã de pernas abertas?

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Pirlimpsiquice


O nome desse conto sugere um “converse” entre duas idéias: Pirlimpimpim, o pó de faz de conta do Sítio do Picapau Amarelo e psiquê, que em grego significa tanto "borboleta" como "alma". 
... a borboleta que depois de uma vida rastejante como lagarta, diferente da formiga, pode flutuar na brisa do dia, como alguém purificada pelos sofrimentos e preparada para gozar a verdadeira felicidade.

Eu escuto a cor


Eu escuto a cor dos passarinhos
Eu escuto a cor dos passarinhos.

 EU BRINCO COM ELE

Pirlimpimpim


(...) no outro dia seguinte, domingo – o dia! – íamos tornar a ensaiar, ensaiar, ensaiar, senhor, mas – com os reboliços, as horas curtas, poucas: a missa demorada, a gente ganhando pão de mel e biscoitos no café, tendo-se de ajudar a arrumar o teatro, a caixa-do-ponto verde repintada fresca, as muitas moças e senhoras aparecidas, chegadas as roupas nossas teatrais, novinhas nos embrulhos (...) chegando visitas, pais, parentes, de fora, para assistir (...) íam dar na gente a tremenda vaia...


Mipmipmilrip

SEM FAZER CONTA DE COMPANHIA OU CONVERSAS, VARAVA OS RECREIOS REPRODUZINDO FITAS DE CINEMA: CORRIA E PULAVA, À CELERADA, CÁ E LÁ, FINGIA GALOPES, TIROS DISPARAVA, ASSALTAVA A MALA-POSTA, INTIMANDO E PONDO MÃOS AO ALTO, E BEIJAVA AFINAL – FIGURADO A UM TEMPO DE MOCINHO, MOÇA, BANDIDOS E XERIFE.


 MAS, A OUTRA HISTÓRIA, POR NÓS TRAMADA, PROSSEGUIA, AUMENTAVA, NUNCA TERMINAVA, COM SINGULARES-EM-EXTRAORDINÁRIOS EPISÓDIOS, QUE UM OU OUTRO VINHA E PROPUNHA: O “FUZILADO”, O “TREM DE DUELO”, A MÁSCARA: “FUÇA DE CACHORRO”, E, PRINCIPALMENTE, O “ESTOURO DA BOMBA”









segunda-feira, 18 de abril de 2011

A namorada

A carta, a pureza, a inocência



Lembrei de outras coisas, que me aconteceram quando criança, mas que preferi deixar passar...
Por vezez o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira

Chegou
Antes

Antes ainda
A dúvida

Mantivemos os elementos do texto: as cartas, a árvore e o muro.
A aflição para receber a carta por outro lado receber a correspondência ganhou vários sentidos aquela tarde e continuaria se agregando muitos outros se continuássemos destrinchando o texto, nossas conversas e outras interações com o espaço.












Ouvir Amor de Buzu

Difícil de mandar recado pra ela
         Não existia e-mail 


imagens sonoras

 namoro escondido


A namorada
Manoel de Barros

Havia um muro alto entre nossas casas.
Difícil de mandar recado para ela.
Não havia e-mail.
O pai era uma onça.
A gente amarrava o bilhete numa pedra presa por
um cordão
E pinchava a pedra no quintal da casa dela.
Se a namorada respondesse pela mesma pedra
Era uma glória!
Mas por vezes o bilhete enganchava nos galhos da goiabeira
E então era agonia.
No tempo do onça era assim.

Texto extraído do livro "Tratado geral das grandezas do ínfimo", Editora Record - Rio de Janeiro, 2001.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Substância


... para temperar a intensidade brilhante, branca...



Imagens: cachoeira, infância: brincar com farinha,
tempo, efemeridade, instinto animal, procissão...

Imagem: purificação através da água - corpos e mentes danificados
 "Coloquei a testa no pó - relaxar - aliviar a dor - cheiro de Namíbia -comecei a sentir a textura da substância na minha pele"

Mesmo, sem querer, entregou os olhos ao polvilho, que ofuscava, na laje, na vez do sol. Ainda que por um instante, achava ali um poder, contemplado, de grandeza, dilatado repouso, que desmanchava em branco os rebuliços do pensamento da gente, atormentantes.

Observei meninos brincando, pessoas aguçando sua percepção, dançarinos bailando ao sincronismo que a gravidade dava quando com as mão elevavam a farinha ao alto e por entre os dedos as deixavam cair, formando uma grande cachoeira. De certo a trilha sonora que orientava o movimento ajudava, mas que em horas mesmo tendo o raciocino, julgava que o movimento era quem pedia a musica.(...) Me fez refletir sobre teatralidade (...) Até que ponto nós jogamos? (...) Agora chegou minha vez de ser e sentir criança (...)

Havia em mim uma preocupação de fazer algo sem luxos, guiado apenas pela ludicidade a qual eu queria ter presenciado, mas que também fosse agradável de ser visto. Isso me fez pensar, refletir e planejar o que fazer, tentando principalmente atender as sugestões que eu achei coerente à proposta. (...) havia também uma necessidade de escutar o grupo com o qual eu estava trabalhando, pra criar uma interação, um diálogo.

"Ele veio para junto. Estendeu também as mãos para o polvilho - solar e estranho: o ato de quebrá-lo era gostoso, parecia um brinquedo de menino".

Via espectros e pessoas com saudades profundas de outras pessoas, de relações que parece se esfarelam como o tempo.

Em nossos olhares encontros e desencontrosCaminho para nos tornarmos meninos   Uma menina entregue as suas vontades




Era uma areia fina, areia de deserto, areia que queima a pele, que corta, areia que machuca. Areia. Pura e simplesmente areia.

Foi muito forte a sensação de liberdade e união.
O tempo que perpassa pelas mãos
O tempo que ultrapassa e se dissolve 
Efêmero...
Areias do tempo, areias da vida, areias do tempo (...)
O homem manipulando o tempo
Sua vida
O polvilho. Coisa sem fim. Ela tinha respondido: - "Vou demais." Desatou um sorriso. Ele nem viu.


Estávamos ali, sobre a lona de plástico, com aquela substância, bem diante de nossos olhos. O que fazer? Como começar? As perguntas chegavam a perturbar minha mente. Então, ao toque da música e tendo como base algumas orientações, os movimentos começaram a fluir naturalmente. A música pedia interação e o meu corpo pedia a música, ao tocar a substância descobria uma nova sensação. Sempre vemos nossas mães, ou avós, utilizando a farinha para fazer um bolo, mas quantos de nós já havia parado para tocar nesta substância e perceber as sensações que ela nos causa? Eu nunca havia tocado. Fui tomado por várias sensações, imagens, relações com a substância e com as pessoas...

... poder ter uma relação mais próxima de algo que no cotidiano está tão distante, primeiro por já sermos adultos e não termos mais essa relação do brincar, se jogar, se sujar, enfim... Estar em contato com algo que te leva lá para o tempo onde tudo era permitido...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

A viagem

 O bilhete
Davam-lhe balas, chicles, à escolha.
Ele colecionava óculos e adorava inventar brincadeiras.

 Boneco de estimação para fazer companhia na viagem
Bilboquê é um brinquedo antigo: uma esfera de madeira, com um orifício central, e presa por uma corda numa espécie de suporte. Através do movimento das mãos, esta bola deve ser encaixada no suporte.

Estilingue é uma arma/brinquedo primitiva, construída com forquilha de madeira ou de metal, com tiras elásticas, com que se atiram pequenas pedras. É conhecido também por badogue ou badoque, bodoque, funda...











Essa é a história. Ia um menino, com os Tios, passar dias no lugar onde se construía a grande cidade. Era uma viagem inventada no feliz; para ele, produzia-se em caso de sonho.




Entregavam-lhe revistas, de folhear, quantas quisesse...

Ele - Antes da viagem
A aeromoça, ele e os tios






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